segunda-feira, 28 de julho de 2014

Hoje é dia de Home Office

Mais empresas concedem aos funcionários a alternativa de trabalhar de casa ao menos uma vez por semana


RIO - Sexta-feira à tarde, e a analista de mídias digitais Fernanda Saudino está em casa. Não se trata de uma folga eventual, mas de uma alternativa da qual pode dispor toda semana. Fernanda é funcionária da agência de marketing digital HQT (Hola Que Tal), que resolveu implementar o home office às segundas e sextas, integrando, assim, parte de um grupo crescente de empresas que começa a aderir ao trabalho remoto.
Na HQT, a medida foi motivada pelo trânsito caótico do Rio: especialmente na sexta, muitos funcionários perdiam horas no trânsito para chegar à empresa, em Ipanema.
— Esse benefício foi uma das coisas que me fez querer trabalhar na agência — conta Fernanda, que está na HQT desde novembro do ano passado e diz que muitos amigos sentem inveja quando sabem de seu esquema de trabalho flexível. — Todo mundo fica querendo trabalhar aqui também, porque é uma coisa rara de acontecer no mercado.

WHATSAPP E SKYPE NO DIA A DIA
Como atua com marketing digital, Fernanda precisa apenas do laptop e do celular para desenvolver o seu trabalho. Aplicativos como Whatsapp, Gtalk, Skype e grupos do Facebook são muito usados por ela e pelo restante da equipe.
— Os funcionários conversam entre si o dia inteiro, mesmo quando estão trabalhando de casa — diz Fernanda, explicando que as reuniões presenciais com clientes não são descartadas. — Mas se uma reunião é marcada em dia de home office, vamos para o encontro e depois voltamos para casa.
Como é de Vitória, no Espírito Santo, a analista aproveita para ficar mais tempo com a família nos fins de semana em que vai visitá-la. O ganho é o mesmo para Jacqueline Silveira, especialista de certificação de produto da Michelin: o home office permite que ela ganhe tempo ao lado do filho, de 13 anos. A empresa lançou o programa no início do ano, depois de fazer um projeto piloto em setembro de 2013.
— A empresa identificou em 2012, por meio de uma pesquisa que realizou com seus funcionários, que a possibilidade de trabalhar em casa era a primeira demanda para a melhoria da qualidade de vida — explica Priscilla Zanatelli, gerente de Política de Diversidade e Qualidade de Vida da Michelin América do Sul, acrescentando que o “Home office” está inserido no âmbito de um programa mundial de RH da Michelin, o “Ir Mais Longe Juntos”, cuja proposta é melhor equilibrar a vida profissional e pessoal dos colaboradores.

DIA ACORDADO COM O GESTOR
O dia em que o profissional vai trabalhar de casa não é fixo e pode ser acordado entre o funcionário e seu gestor. Jacqueline Silveira procura escolher o dia em que não vai ter nenhuma reunião importante.
— Tento fazer com que minha rotina de home office seja a mais similar possível à da empresa. Deixo todo o material e documentos que venham a ser necessários à mão e fico disponível no chat interno da empresa e no celular corporativo — explica Jacqueline.
Na IBM, desde 2007 já existe uma política global de adoção do home office em tempo integral e também de semana comprimida — quando o funcionário trabalha mais horas por semana durante quatro dias e sai mais cedo no quinto.
— A modalidade home office é uma opção de flexibilidade que serve não só para atração, mas para retenção de talentos também. Sabemos de casos de funcionários que receberam propostas externas e optaram por ficar na IBM porque acreditam que a flexibilidade faz toda a diferença — afirma Adriana Ferreira, líder de programas de diversidade da IBM Brasil.
Na companhia, existem dois caminhos possíveis para se aderir ao trabalho remoto: por demanda do funcionário ou da própria empresa.
— Essa é uma decisão que deve ser tomada em conjunto entre o funcionário e a empresa. Profissionais recém-contratados talvez não sejam os mais indicados para trabalhar em home office, pois ele precisa se inserir mais na cultura da empresa. Também é importante o profissional avaliar se ele vai trabalhar bem de forma isolada ou se, de fato, prefere estar em contato com os colegas — destaca Adriana, da IBM.
Para Jacqueline, da Michelin, conversar com a família também é fundamental para que o trabalho em casa funcione:
— A família precisa compreender e ajudar a fazer com que seja criado um ambiente de trabalho em casa.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Home offices e família, uma relação possível

RIO — Trabalhar em casa é uma boa opção para empreendedores iniciantes e com poucos recursos para investir no novo negócio. Economia e flexibilidade são as principais motivações, mas há uma série de cuidados que o empresário precisa tomar para não misturar a vida pessoal com a profissional, principalmente quando a casa tem outros moradores. Não basta montar um home office bem equipado, é preciso que todos entendam que naquela casa funciona também um escritório.
Segundo Marina Sell Brik e André Brik, especialistas em home office, antes de planejar o espaço de trabalho, o empresário deve conversar com as pessoas que moram e frequentam a casa (companheiros, pais, filhos e diaristas) e propor uma mudança de comportamento a todos. As crianças tendem a demorar um pouco mais para entender que ter o pai ou a mãe em casa não é sinônimo de brincadeira full time:
 O ideal é que haja um local de trabalho bem definido e o mais isolado possível da rotina da família, mas, ainda assim, é importante haver diálogo com os filhos para que eles saibam quando os pais estão trabalhando — explica Marina, que dá consultoria a famílias de trabalhadores em home office.
Os adultos também precisam entrar no clima. Gritaria e algazarra não passam credibilidade e têm que ser evitadas principalmente em horário comercial. Não pega nada bem o jovem empreendedor ser chamado a atenção porque deixou a toalha molhada em cima da cama bem na hora que estava com o cliente ao telefone.
A jornalista Manoela Cesar escreve o blog de casamento Colher de Chá Noivas e, há quatro anos, trabalha de casa. Para ela, uma das maiores dificuldades é conscientizar os familiares que não moram com ela:
— A família tende a achar que, por você estar em casa, está sempre disponível. Com o tempo, consegui dar um limite e reservar o horário comercial para as atividades do blog.
Outra mudança importante está no uso do computador. Todo cuidado com o equipamento da empresa é pouco. Home offices não têm um setorhelp desk disponível para resolver os problemas tecnológicos. É aconselhável que a empresa tenha um computador exclusivo, para garantir a segurança de informações do negócio. Caso a família só tenha um computador, é preciso que todos parem de baixar arquivos e programas que não sejam confiáveis. O empresário deve, inclusive, instalar ferramentas de bloqueio que exijam senha para downloads e instalação de softwares.
Por mais que a participação de todos seja imprescindível para o sucesso da empresa, a responsabilidade maior é do empresário. Alguns cuidados podem evitar excessos que prejudicam o rendimento do trabalhador.
— Não é porque você está em casa que pode trabalhar sem parar. As pausas para um café e para arejar a cabeça aumentam a produtividade — alerta Marina, acrescentando que outro erro comum de quem trabalha onde mora é achar que pode pular da cama de manhã direto para o escritório. — Não dá para trabalhar de pijama. O descuido com a aparência prejudica o desempenho e reduz a autoestima.
A tradutora Fabiana Baruqui trabalha em casa há oito anos e garante que a disciplina é a fórmula para o sucesso:
— Já trabalhei em empresa e descobri que não nasci para isso, adoro a flexibilidade e o estilo de vida mais saudável que o home office me dá, mas, para tirar proveito disso, preciso ter autocontrole. Faço questão de delimitar bem minhas horas de descanso e de tradução. Não termino meu trabalho à noite e vou direto para cama. Por mais tarde que seja, preciso ler um livro e fazer qualquer outra atividade antes de dormir.