Por: Henrique Moraes 13/05/2012
Fonte: O Fluminense
Segundo último censo do IBGE, trabalho em casa continua a crescer
em média 30% ao ano. Realidade já causou alterações na Consolidação das
Leis do Trabalho
Flexibilidade para se organizar, tempo para o lazer, maior contato
com a família, menor custo com transporte, alimentação e vestuário e
redução do estresse causado pelos congestionamentos de trânsito. Essas
são algumas das vantagens de uma modalidade de trabalho que está
aumentando no Brasil: o home office (trabalho em casa). O último censo
realizado pelo IBGE em 2010 apontou que mais de 30 milhões de
brasileiros desenvolvem suas atividades profissionais em casa.
Como o avanço tecnológico trouxe mobilidade, este tipo de atividade
vem crescendo cada vez mais no País e sendo adotado por muitas empresas.
Situação que, inclusive, gerou alterações na Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), que a partir da Lei 12.551, de dezembro de 2011, teve
seu artigo sexto alterado, de modo a regulamentar que o trabalho à
distância, ou no domicílio do empregado, tenha as mesmas garantias
legais que o realizado na empresa Alvaro Mello, presidente da Sociedade
Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), afirma que o
teletrabalho cresce uma média de 30% ao ano e é um fenômeno no Brasil.
“Sem dúvida, hoje, em virtude da utilização da tecnologia da
informação e da comunicação, se trabalha em qualquer lugar e a qualquer
hora. Isto tem modificado o modelo de gestão nas empresas e,
particularmente, as relações colaborador/gestores”, explica.
O presidente da Sobratt, que é também professor da Business School
São Paulo (BSP), informa que os profissionais que mais atuam no home
office estão nas áreas de vendas, consultoria, engenharia e prestadores
de serviços, principalmente na área de Tecnologia da Informação,
executivos de grandes empresas e, mais recentemente, televendas e
teleatendimento (call centers).
“Dados levantados pela Sobratt mostram que existem teletrabalhadores
predominantemente nas áreas de TI, comunicações e vendas. No entanto,
deve-se levar em consideração que hoje qualquer atividade administrativa
levanta, analisa e manipula informações, utilizando equipamentos, tais
como: smartphones, tablets e outros, sem a necessidade de ser realizada
em um local e horários fixos”, analisa ainda Mello.
Gerenciamento do tempo - Uma das maiores dificuldades ligadas ao home
office diz respeito ao gerenciamento do tempo. Segundo Raquel Rocha de
Souza, analista de Recursos Humanos da Vertigo Tecnologia, trabalhar em
casa exige alto grau de responsabilidade, disciplina, organização e
comprometimento. Para ela, diversos fatores em casa podem desviar a
atenção do colaborador e afetar a sua produtividade.
“Uma forma eficaz para gerir o tempo é estabelecer um local
específico para desempenhar as atividades e uma rotina de trabalho com
horários definidos que devem ser seguidos, de fato, como se o
colaborador realmente estivesse no trabalho”, orienta.
De acordo ainda com a analista de RH, o ideal é que as condições em
casa sejam semelhantes as do ambiente de trabalho da empresa. “Também
vale estabelecer regras claras com os familiares para que eles não
interfiram na rotina de trabalho para que a relação entre todos da casa
não seja afetada”, destaca.
Funcionária de uma empresa que presta serviços em Tecnologia da
Informação (TI), a administradora de sistemas Web, Marcia Rodrigues, de
53 anos, trabalha como home office há quase oito anos depois de 34 anos
trabalhando fora de casa. O seu principal cliente é uma editora de
revistas médicas.
“Trabalhei dentro dessa editora por sete anos como
administradora de sistemas. Comecei em 1998 quando a editora iniciou um
website que passei a coordenar. Como o volume de trabalho no portal
cresceu, passando a editar a revista, as notícias, agenda, contatos com
os internautas e newsletters, não dava mais para atender as tarefas
internas de T.I e mais o site. Então, em 2004, a empresa sugeriu que eu
administrasse o portal de casa”, lembra a especialista em TI.
Márcia diz que as vantagens do home office são muitas. Entre as
principais ela cita ter deixado de gastar tempo no trânsito, não ter
cobranças diretas e alimentar-se melhor.
“Tenho também flexibilidade na ordem das tarefas o que me ajuda com
os trabalhos mais complexos que exigem criatividade e nem sempre se
consegue produzir imediatamente”, relata.
Entre os pontos negativos ela destaca o isolamento e a falta de uma
melhor negociação financeira. “O custo de minha produção nem sempre é
considerado pela empresa. Como, por exemplo, computadores, eletricidade,
serviço de internet, aplicativos e cursos de atualização”, expõe.
Já a administradora de empresas Roberta Campos Godoy, de 37, começou a
trabalhar como home office há nove meses para poder dar mais atenção a
sua filha de pouco mais de um ano. Além de mudar o local, ela também
mudou a área de atuação: agora é agente de turismo.
“Quando decidi abrir mão da minha carreira para me dedicar à
maternidade, uma amiga, dona de uma agência de turismo em Belo
Horizonte, me ofereceu trabalho explorando a área de São Paulo, onde
moro. Aceitei na hora, pois além de ter a oportunidade de não ser dona
de casa em tempo integral teria a chance de ganhar por isso”, relata.
Entre as vantagens, Roberta destaca poder fazer a própria carga horária e ter mais tempo para a família.
“Já a desvantagem é que, por estar em casa, às vezes, misturou as tarefas domésticas com as atividades profissionais”, aponta.
Marianne Diniz, de 24, é gerente de vendas de uma multinacional de
cosméticos há apenas cinco meses. Ela diz que o seu tempo não é muito
difícil gerenciar porque tem que estar online sempre das 9 às 18 horas.
“Sou controlada pelo sistema da empresa. O que acontece é que nunca
trabalho até às 18 horas. Sempre passo uma ou duas horas por dia”,
conta.
Nelson Moreira do Carmo Junior, de 41, analista de sistemas de uma
empresa de tecnologia, trabalha há cinco anos como home office. Ele diz
que gastava de três a quatro horas de deslocamento para o trabalho
tradicional. “Foram 10 anos assim até me tornar home office”, lembra.
Produtividade, concentração, alimentação, saúde e horário flexível são
as vantagens em sua visão.
“O pouco contato com as pessoas seria a desvantagem”, acredita.
As empresas também ganham
A professora Janaína Ferreira, especialista em gestão de carreiras do
Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-RJ), afirma que são
muitas as vantagens para as empresas também. Segundo ela, está
comprovado que o home office, se estruturado e gerenciado de modo
adequado, traz ganhos de produtividade.
“Estudos demonstram que há menos interrupções no trabalho, maior
concentração e realização de algumas atividades em menor tempo com maior
qualidade. Além disso, verifica-se que o funcionário torna-se mais
produtivo quando pode trabalhar sem o estresse causado por alguns chefes
e pela convivência com pessoas competitivas”, relata a especialista.
A professora do Ibmec diz ainda que outras vantagens comprovadas pela
adoção do sistema são a redução do absenteísmo (faltas) causado por
doenças, a redução no consumo de energia elétrica e a diminuição na
interrupção das atividades nos casos de catástrofes e greves nos
serviços públicos.
Sociedade - Os benefícios se estendem também para a sociedade e meio ambiente na visão de Janaína Ferreira.
“Gera diminuição dos congestionamentos e consequente melhoria da
qualidade do ar e a redução de preço dos imóveis com a alternativa das
pessoas morarem fora dos grandes centros”, esclarece.
Como há relação
de interdependência entre trabalhador, empresa e meio ambiente, a
especialista do Ibmec-RJ acredita que naturalmente qualquer benefício
trazido pelo home office para um dos envolvidos implicará em benefício
para o outro, a curto ou longo prazo.